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O Rio Grande do Sul (pronúncia em português: [hiw ˈɡɾɐ̃ːdʒɪ dʊ ˈsuw]) é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está situado na Região Sul e tem por limites o estado de Santa Catarina ao norte, Argentina ao oeste e Uruguai ao sul, além do Oceano Atlântico ao leste. É dividido em 497 municípios e sua área total é de 281 730,223 km², o que equivale a 3,3% da superfície do Brasil, sendo pouco maior que o Equador.[8] Sua capital é o município de Porto Alegre e seu atual governador é Ranolfo Vieira Júnior. As cidades mais populosas são: Porto Alegre, Caxias do Sul, Canoas, Pelotas e Santa Maria. O relevo é constituído por uma extensa baixada, dominada ao norte por um planalto. Antas, Uruguai, Taquari, Ijuí, Jacuí, Ibicuí, Pelotas e Camaquã são os rios principais. O clima é subtropical e a economia baseia-se na agricultura (soja, trigo, arroz e milho), pecuária e indústria (de couro e calçados, alimentícia, têxtil, madeireira, metalúrgica e química).
Com 11,4 milhões de habitantes, ou cerca de 5,4% da população brasileira, é o 6º estado mais populoso do Brasil, podendo ser comparado com a Ruanda no número de habitantes. A população gaúcha é uma das mais diversificadas do país e descende principalmente de italianos e alemães, que começaram a emigrar para o país no fim do século XIX. Sua população é em grande parte formada por descendentes de portugueses, alemães, italianos, africanos, libaneses e indígenas, em pequena parte por espanhóis, poloneses e franceses, dentre outros imigrantes.
Em 1627, jesuítas espanhóis criaram missões jesuíticas próximas ao rio Uruguai, mas foram expulsos pelos portugueses em 1680, quando a Coroa Portuguesa resolveu assumir seu domínio, fundando a Colônia do Sacramento. Os jesuítas espanhóis estabeleceram, em 1682, os Sete Povos das Missões. Os portugueses chegaram em 1737 com uma expedição militar de José da Silva Paes. As lutas pela posse das terras entre portugueses e espanhóis continuaram, e somente tiveram fim em 1801, quando os próprios gaúchos dominaram os Sete Povos, incorporando-os ao seu território. É criada em 19 de setembro de 1807 a Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul. Em 28 de fevereiro de 1821 torna-se a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, que viria a se tornar o atual estado do Rio Grande do Sul, após a Proclamação da República do Brasil. Com a chegada de outros povos a partir de 1824, a sociedade estancieira passou então a coexistir com a pequena propriedade agrícola, diversificando a produção. Durante o século XIX, o Rio Grande do Sul foi palco de revoltas federalistas, como a Guerra dos Farrapos (1835-45), participou da luta contra Rosas (1852) e da Guerra do Paraguai (1864-70). As disputas políticas locais foram acirradas no início da República e só no governo de Getúlio Vargas (1928) o Estado foi pacificado.
É o estado mais meridional da federação, conta com o quarto maior PIB, superado apenas por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e com o sexto IDH mais elevado do país. Em certos locais do estado, como a Serra Gaúcha e a região rural da metade sul, ainda é possível ouvir dialetos da língua vêneta (talian) e do alemão (Hunsrückisch, Plattdeutsch). O Rio Grande do Sul foi apontado em 2014 pelo jornal americano The New York Times como o lugar com mais traços europeus do Brasil.[9] Embora o estado esteja enfrentando uma crise econômica acentuada, é onde há o maior número de idosos e a segunda maior expectativa de vida e onde os trabalhadores são mais bem remunerados, tendo uma das menores taxas de analfabetismo, e mortalidade infantil do país.[10][11][12] Mesmo com bons indicadores sociais, o Rio Grande do Sul sofre com a disparidade econômica entre a metade norte, considerada industrial, e a metade sul, considerada agrária.[13]
O nome do estado originou-se de uma série de erros e discordâncias cartográficas, quando se acreditava que a Lagoa dos Patos fosse a foz do Rio Grande,[necessário esclarecer] que já era demonstrado em mapas neerlandeses, décadas antes da colonização portuguesa na região. Pelo que se sabe até agora, o primeiro cartógrafo dos Países Baixos a registrar a Lagoa dos Patos, ainda considerada o Rio Grande, foi Frederick de Wit, em seu atlas de 1670. Já o primeiro registro cartográfico feito por um neerlandês a mostrar o suposto rio com um formato próximo ao que é conhecido hoje da referida lagoa foi Nikolaus Visscher, em 1698. Apesar de ele não ter sido o primeiro a mencionar os índios Patos que habitavam suas margens e boa parte do litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, foi ele quem associou o nome à lagoa. Por volta de 1720, açorianos vindos de Laguna vieram à região de São José do Norte buscar o gado cimarrón vindo das missões, possibilitando a posterior fundação da cidade de Rio Grande, no ano de 1737. A partir do nome do município, surgiu também o nome do estado do Rio Grande do Sul.[carece de fontes]
Os habitantes naturais do Rio Grande do Sul são denominados comumente gaúchos, ainda que outros termos, como sul-riograndenses, riograndenses-do-sul ou simplesmente riograndenses também sejam usados.[14] O gentílico no masculino do singular é gaúcho e no feminino do singular gaúcha.[15] É uma palavra oriunda do castelhano gaucho,[nota 1] um adjetivo que, aplicado a pessoas, pode significar “nobre, valente e generosa” ou “camponês experimentado em pecuária tradicional”, ou ainda “velhaco, astuto, dissimulado ou ardiloso experiente”,[17] mas também pode ter o sentido de “vagabundo, contrabandista, desregrado e desprivilegiado”.[18]
Na época do Descobrimento do Brasil, a região que hoje forma o Rio Grande do Sul era habitada pelos índios minuanos, charruas e caaguaras, que viveram há 12 mil anos a.C.[19][20] Eram bons ceramistas e, na caça, usavam as boleadeiras, até hoje um dos instrumentos do peão gaúcho.[21][22] Essas tribos viveram muito tempo sem contato com os brancos colonizadores.[22] As disputas entre Portugal e Espanha sobre os limites de suas possessões na América fizeram com que a região só fosse ocupada no século XVII.[23] Os padres jesuítas espanhóis foram os primeiros a se estabelecer no local.[22][24]
As peculiaridades geográficas do atual estado do Rio Grande do Sul, dividido em 11 diferentes regiões fisiográficas,[25] influíram para retardar a ocupação da terra, a leste, pelo conquistador europeu.[26][27] Outro fator negativo foi o Tratado de Tordesilhas, de 1494, que dividiu a soberania sobre os descobrimentos entre Portugal e Espanha por um meridiano ideal.[28] No caso do Brasil, o meridiano estendia-se das proximidades da ilha de Marajó até a baía da Laguna, em Santa Catarina.[28][29][29][30] Ante as dúvidas surgidas sobre o ponto exato em que deveria passar a linha convencionada e achando-se o rio de São Pedro justamente na zona cuja confrontação se discutia, nenhuma daquelas duas nações se apressou a ocupá-lo, pelo temor de novas dificuldades diplomáticas. Contudo, em princípios do século XVII a Espanha penetrava na margem esquerda do Rio Uruguai, por intermédio dos jesuítas que, a partir do Paraguai, estabeleceram suas reduções em vários pontos, chegando mesmo às cercanias da futura cidade de Porto Alegre e, de modo geral, senhoreando-se de todo o oeste rio-grandense.[29][30]
A seguir, os bandeirantes destruíram a província do Guairá, desceram à província do Tape, no coração do Rio Grande, e à província do Uruguai, desbaratando as aldeias e aprisionando os índios, que levavam como escravos para suas lavouras.[31] Antônio Raposo Tavares foi um dos maiores chefes dessas expedições predatórias.[31] As aldeias foram arrasadas, seus habitantes mortos ou aprisionados, e os sobreviventes fugiram com os jesuítas, para o sul, onde se fixaram junto à margem direita do rio Uruguai.[29][30] Ao levar a catequese, o aldeamento, as estâncias e os ervais a uma larga faixa do território, entre 1632 e 1634 os jesuítas estabeleceram reduções no alto Ibicuí (São Tomé, São Miguel, São José, São Cosme e São Damião). Ampliaram a área de penetração, alcançaram a bacia do Jacuí e fixaram outras reduções, inclusive para além da província do Tape (Santa Teresa, Santa Ana, São Joaquim, Natividade, Jesus Maria, São Cristóvão).[29][30]
A vitória alcançada contra os paulistas na batalha de Mbororé, em 1641, não foi suficiente para permitir a fixação das reduções.[32] O êxodo das populações indígenas—já iniciado depois do assalto da bandeira de Raposo Tavares, em 1637—se intensificou, com a transferência dos jesuítas e dos índios para a margem direita do rio Uruguai, na fértil mesopotâmia do Paraná.[29][30][33] Concluiu-se, por força de tais acontecimentos, a primeira fase da civilização jesuítica no território do atual Rio Grande do Sul, com o abandono de terras abertas aos que primeiro chegassem para ocupá-las, aventureiros e colonizadores.[34] Somente depois de 1680, com a fundação da Colônia do Sacramento, na margem superior do rio da Prata, a região passou a ser objeto de disputa política por parte de portugueses e espanhóis.[29][35][36]
A pressão dos bandeirantes não pôs fim à presença dos jesuítas na margem oriental do rio Uruguai.[36] Retornaram os religiosos cinqüenta anos depois do êxodo, atraídos pelas disponibilidades econômicas da região, sobretudo pelo gado.[36] Inaugurou-se, na volta ao território perdido, a segunda fase da penetração jesuítica,[carece de fontes] que na realidade só terminou com a Guerra de 1801—precedida de longas e indecisas ações diplomáticas –, a qual incorporou definitivamente a região ao Rio Grande do Sul.[29][36][37]
A segunda fase cifra-se na história dos Sete Povos das Missões, com o marco inicial de 1687 (São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, Santo Ângelo Custódio).[carece de fontes] O perigo dos paulistas não cessara, embora se tornasse menos ameaçador, concentrada a ação do poder dos portugueses na faixa litorânea, de que a Colônia do Sacramento seria o ponto extremo.[29][36] Situados em terras de domínio nominal da Espanha, sob o comando de Buenos Aires, os Sete Povos abrangiam, as extremas dos grandes rebanhos de gado, que se concentravam nas vacarias—as Vacarias do Mar, que alcançavam o extremo sul do atual Rio Grande do Sul, penetrando em território uruguaio, e a Vacaria dos Pinhais, na região da hoje ainda chamada Vacaria, no nordeste do estado.[29][36]
O Tratado de Tordesilhas não impediu que a coroa portuguesa se atribuísse o território que hoje compreende o Rio Grande do Sul e a República Oriental do Uruguai. Era a Capitania d’El-Rei ou província d’El Rei e figura num mapa de 1562 com o nome “d’el Rei Nosso Senhor”. Em 1676 o regente D. Pedro doou ao visconde de Asseca e a João Correia de Sá duas parcelas de terra, desde Laguna até a foz do rio da Prata. Ainda em 1676 o bispado do Rio de Janeiro se estendia até o rio da Prata, provavelmente em consonância com as reivindicações portuguesas, abarcando toda a região do Brasil Meridional.
Desde o começo da colonização do Brasil, as terras da região sul não despertaram muito interesse dos colonizadores portugueses, devido à ausência de metais preciosos e ao seu clima mais frio (visto que as geadas dificultavam o cultivo de cana-de-açúcar). As capitanias, não exploradas, reverteram, em 1727, ao patrimônio real, negando-se D. João V a confirmá-las.[29][38] A partir de meados do século XVII, sob o estímulo e o comando oficial, a expansão portuguesa para o sul tomou o rumo da costa atlântica ou junto à margem oceânica, sempre com apoio marítimo. Em 1647 fundou-se Paranaguá, com a fixação, sete anos depois, de Curitiba, em movimento que tornaria impossível, no futuro, um avanço capaz de separar São Paulo e o Rio de Janeiro do extremo-sul. Em 1658 já existia São Francisco, como ponto de apoio, plantado no território do atual estado de Santa Catarina.[29][38]
Em 1736 uma expedição chefiada por José da Silva Pais chegou à desembocadura da Lagoa dos Patos, que foi confundida com um Rio grande, no local foi fundado o forte de Jesus-Maria-José. Este forte, feito de pau a pique foi a origem do povoamento da Vila de Rio Grande (futura cidade de Rio Grande). Foi então criada a Capitania de Rio Grande de São Pedro. O local era um ponto estratégico para a defesa do território, estando a meio caminho entre Laguna e a Colônia do Sacramento. A partir de 1725 foram construídas as Estradas reais ligando São Paulo às pastagens de gado do Rio Grande, o que possibilitou a colonização dos campos de Vacaria e Tramandaí por grupos de tropeiros. Partindo de Viamão, outros grupos avançaram pelos vales dos rios Taquari e Jacuí.
A partir da década de 1740, por iniciativa de Alexandre de Gusmão, ministro do rei D. João V, Portugal inicia um projeto de colonização de povoamento no sul do Brasil, visando garantir a posse do território disputado pelos espanhóis. Com esse objetivo, recorreu-se à imigração proveniente da Ilha da Madeira e dos Açores. A partir de 1746 casais de açorianos começaram a ser enviados ao Rio Grande para garantir a posse do território. Era uma nova forma de colonização que Alexandre preconizava, através de famílias que produzissem, sem precisar de escravos. Os primeiros sessenta casais fundaram o Porto dos Casais, mais tarde Porto Alegre. Um conjunto de fortes começou a ser criado e cerca de cinco mil imigrantes açorianos começaram a colonizar a capitania. A natureza econômica da região se definiu na economia de subsistência (ligada ao mercado nacional, mas isolada dos interesses exportadores), baseada sobretudo na produção de trigo e na colonização açoriana.[39]
Em 1763, o governador da Província de Buenos Aires, Pedro de Cevallos, aproveitando-se da Guerra entre Portugal e Espanha, atacou e conquistou metade do território da Capitania do Rio Grande do Sul, juntamente com a sua capital, a vila de Rio Grande. Em 1776 a vila de Rio Grande foi retomada pelos colonos portugueses na Guerra Hispano-Portuguesa de 1776-1777. Em 1 de outubro de 1777 o Tratado de Santo Ildefonso encerrou a guerra colonial e deu a Portugal a posse definitiva do território do Rio Grande do Sul, com exceção das Missões que permaneceram em posse da Espanha. Alguns anos depois, na Guerra de 1801 o território dos Sete Povos das Missões seria finalmente conquistado pelos gaúchos e anexado as possessões portuguesas através do Tratado de Badajoz.
O fator econômico teve grande importância no processo de integração do Rio Grande do Sul colonial ao restante da América Portuguesa. As necessidades constantes de mulas e carne, durante ciclo do ouro, exigiram a importação do extremo-sul, o que incentivou a abertura de novas estradas. Cessada a febre do ouro, o comércio continuou, estimulado pela produção de charque, depois que o Ceará reduziu suas exportações, assolado pela seca de 1777. Encerrou-se o período de conquista predatória do território e consolidou-se a estância como centro produtor, complementada pela charqueada, ampliada pela introdução de mão de obra escrava. O comerciante de gado (muares, cavalos e vacas), o tropeiro, enriqueceu e adquiriu relevo social.[29][40]
O caráter subsidiário da economia, cada vez mais relevante, criou uma unidade diferenciada de produção, ligada ao mercado nacional, mas isolada dos interesses exportadores. Os grupos dominantes no país não se associariam às reivindicações do extremo-sul, antagônicas aos seus objetivos de alimentação barata para a escravaria. O grupo exportador de produtos de aceitação européia, sempre estimulado pelo centro político, no seu exclusivismo, infundiria, à sociedade rio-grandense, a consciência de isolamento econômico, social e político, que os componentes da formação militar tornariam, em certos momentos, explosiva.[29][40] Em 1807, quando a capitania deixou de estar subordinada ao Rio de Janeiro, já se definira a sociedade rio-grandense, dissolvendo-se a pequena agricultura, gradativamente, na expansão da grande propriedade estancieira, gerada sobre as sesmarias prodigamente concedidas. A campanha, com seus núcleos pastoris, só encontrou, com outro espírito, os centros urbanos e os evanescentes grupos agrícolas, pacíficos e situados a leste, em torno de Porto Alegre, mais tarde, com as pequenas propriedades advindas com a colonização alemã, que se desenvolveu a partir de 1824.[29][40]
Nas lutas em torno do domínio do Uruguai, que iriam redundar na criação da Província Cisplatina e sua transformação em país independente em 1828, sofreu o território rio-grandense forte sangria de homens e recursos. A região das Missões Orientais, ainda mal povoadas, servira de teatro às incursões determinadas por José Gervásio Artigas, que nela se abasteceria de cavalhada e gado. Para sustento dessa campanha malograda, o Rio Grande mobilizou todos os seus recursos humanos e materiais.[29][40] Ao lado das tropas regulares que a corte enviou ao sul, os milicianos locais retemperaram nova camada militar, agora unida estreitamente à estância, com suas reservas do proletariado rural, o gaúcho. Entre os chefes, surgiram nomes gloriosos, que iriam influir no futuro: Bento Gonçalves da Silva, José de Abreu, João de Deus Mena Barreto, José Antônio Correia da Câmara, Manuel Marques de Sousa.[29][40]
Nos sucessos da independência, governava a capitania, como capitão-general, o brigadeiro João Carlos de Saldanha, depois duque de Saldanha. Em 1821 criadas as províncias, em caráter provisório, por decreto das cortes de Lisboa, nas quais deveriam eleger-se juntas governativas subordinadas a Portugal, Saldanha foi eleito presidente.[40] Os eleitores paroquiais, todavia, não cumpriram totalmente o decreto, considerando não escrito o artigo que vinculava o governo a Lisboa.[41] O vice-presidente, marechal-de-campo João de Deus Mena Barreto, desconfiado da lealdade portuguesa de Saldanha, criou as condições para o bloqueio político do presidente, que em dezembro de 1822 se retirou para o Rio de Janeiro, sem articular a defesa da união dos reinos, com a hegemonia portuguesa.[29][42] Em seguida ao Fico, as câmaras municipais consolidaram o sentimento nativista, impossibilitando a reação, já ocupado o governo por Mena Barreto. Firmaram-se, nessa ação, sobre a rala camada militar portuguesa, o miliciano local, o estancieiro, a burguesia urbana e o gaúcho.[29][42]
O Rio Grande expandira sua população e suas riquezas. Em 1780, segundo o primeiro recenseamento geral da capitania, a população era de cerca de 18 000 habitantes, enquanto, em 1814, já alcançava a casa dos 71 000.[29][42] O número de escravos aumentou largamente no interregno desses 34 anos, de 5 000 para 20 000, concentrando-se inicialmente nas zonas de produção de trigo, atingidas pela escassez de braços. Com a decadência do trigo, o escravo se trasladou, em pequena proporção, para a estância, já transformada em unidade produtiva e não mais de apropriação, e, em larga escala, para as charqueadas. A estância necessitava de pouca mão de obra, embora se costume exagerar a exiguidade do número de escravos nela empregados.[29][42]
No curso do século XIX, as charqueadas assumiram incremento crescente, ao ponto de desarticular a economia de subsistência, que, pouco antes, tornava a estância um centro quase autárquico, servido pela chácara. O pastoreio e o charque tomaram conta da economia e imporiam a importação de gêneros alimentícios, se a colonização alemã não preenchesse, em breve, o hiato.[29][42] Prosperaram, então, os núcleos comerciais, com a ascendência de Porto Alegre, que centralizou as trocas das populações de leste, de origem açoriana, incentivando focos redistribuidores até as Missões. Ao lado de Pelotas, projetou-se a abertura marítima da província, Rio Grande, único porto da costa, embora de acesso difícil. Continuavam a ter relevo as vias terrestres, que levavam a produção pastoril ao norte, por via da feira de Sorocaba, principal centro distribuidor de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.[29][42] Boa parcela do progresso se deveu ao consumo dos efetivos militares, sem embargo dos confiscos arbitrários, não raros em toda a região. Para uma população de 110 000 habitantes, no início do império, o rebanho bovino elevava-se a 5 000 000 de cabeças, com 1 000 000 de cavalos. As Missões Orientais povoaram-se com as sesmarias concedidas, em largas extensões, aos militares que se deslocaram na guerra e aos aventureiros que desciam de São Paulo, avolumados pelo êxodo de Santa Catarina e Paraná, para o pastoreio em glebas férteis.[29][42]
Organizado o sistema político do império, ocupou a presidência do Rio Grande do Sul o desembargador José Feliciano Fernandes Pinheiro, visconde de São Leopoldo, futuro senador do império. Inaugurou-se, como para todo o país, o período das administrações curtas, incapazes de obra contínua, com 54 presidentes efetivos e 24 interinos, desde Fernandes Pinheiro a Justo de Azambuja Rangel, em 1889.[29][42] No século XIX, os índios caingangues que ocupavam as áreas montanhosas da Região Sul do Brasil foram desalojados violentamente por ação de matadores de indígenas chamados de “bugreiros”. Estes haviam sido contratados para abrir espaço para a instalação, por parte do governo imperial brasileiro, de imigrantes europeus na região, visando a um “embranquecimento” da população brasileira, até então majoritariamente negra e mestiça.[43]
Em 1824, em virtude de plano elaborado nos conselhos da corte, desembarcaram em Porto Alegre os primeiros imigrantes alemães, destinados à agricultura. Retomou-se, com essa medida, a experiência da pequena lavoura açoriana (78 hectares para cada família), que, seduzida pela criação do gado, se rarefizera e fora atraída para a grande propriedade. A partir da margem esquerda do rio dos Sinos, onde depois se situaria a cidade de São Leopoldo, expandia-se, em levas contínuas, o mais importante impulso agrícola da época, assegurando a economia de subsistência, já praticamente em abandono.[29][42] Os imigrantes, que prosperavam na lavoura, no artesanato e na pequena indústria, equilibraram a paisagem pastoril com sua sociedade pacífica, sem vínculos com o patriarcado militar e alheia às tensões da economia do gado. Porto Alegre, o centro administrativo, viu com isso acentuada a sua posição de coordenadora da autoridade, subordinada à capital do império. Não obstante o ingresso de imigrantes agrícolas, até que a sociedade se transformasse, no longo processo de aculturação, predominavam as estâncias pastoris, cujos interesses, no curso do século XIX, já se haviam amalgamado ao patriciado militar, que se “afazendara”, na obtenção de sesmarias e gado.[29][42]
O dissídio entre o centro e a província, amortecido na Guerra Cisplatina, se intensificou nas primeiras três décadas do século, até a Revolução Farroupilha de 1835. Produtores de charque e derivados do gado e fornecedores de muares, os rio-grandenses não dispunham de meios para influenciar as linhas de conduta político-econômica do centro.[42] Incapaz de concorrer com a produção platina, mais bem aparelhada e com custos inferiores, via-se a economia rio-grandense sujeita à instabilidade, em detrimento dos criadores e charqueadores.[44] A carga tributária sobre a produção gaúcha tornou-se sufocante. As rendas fiscais, carreadas para o centro, revertiam em parcela mínima para o sul. De outro lado, os presidentes da província, agentes do Rio de Janeiro, não se mostravam solidários com os interesses locais.[29][45]
A revolução decorrente desse estado de coisas, exaltada com o nome de Farrapos ou revolução Farroupilha e liderada pelo deputado provincial e coronel de milícias Bento Gonçalves da Silva, duraria dez anos—a década heróica da história do Rio Grande do Sul: de 19 de setembro de 1835 até 1 de março de 1845, quando foi assinada a paz com o governo de D. Pedro II, depois que Luís Alves de Lima e Silva, então barão de Caxias, assumiu a província e o comando de suas armas.[29][45] Cuidou Caxias, depois de pacificar os ânimos, de atender algumas das mais urgentes reivindicações republicanas dos revolucionários, concernentes à instrução pública e às comunicações terrestres. As campanhas nacionais que se seguiram, com o Rio Grande por cenário—a luta contra Rosas, em 1852, e a guerra do Paraguai, de 1864 a 1870—fortaleceram a economia sulina. Enquanto a revolução Farroupilha esgotou as reservas da principal riqueza da província, essas guerras, apesar dos sacrifícios com soldados (33 803 soldados rio-grandenses na guerra do Paraguai, a quarta parte dos combatentes), exigiram grande consumo de produtos agrícolas e pecuários, indenizados pelo justo valor. A agricultura, que a colonização alemã tornara florescente, contribuiu amplamente para alimentar as tropas. O Banco da Província, fundado em 1858, e ainda existente, seria uma das fontes de estímulo da riqueza local.[29][45]
Não obstante a recuperação econômica, mantinham-se as causas do desequilíbrio regional, em desfavor da produção local. Também foi mantida a política econômica, ditada pelo centro e considerada espoliativa pelos estancieiros e charqueadores, acentuando o isolamento do Sul. A exigência de redução dos direitos sobre os couros, de 15 para 5%, e sobre o sal, de 240 para 50 réis por alqueire, permaneceu sem resposta. No que se referia ao charque, a exportação se achava com direitos mais altos do que o similar platino; o sistema escravocrata das charqueadas onerava a produção ao impedir a retração da mão de obra e exigir maior capital fixo.[29][45] Surgiu, então, um líder, Gaspar Silveira Martins, que, em 1861, se propôs, constituindo o Partido Liberal Histórico, a criar uma base de operações políticas, de baixo para cima, nas estâncias e nos ranchos, com a pregação de casa em casa. Queria libertar sua terra da “asfixiante, vergonhosa tutela do poder central”. Depois de 11 anos de luta, após dominar a assembleia provincial, Silveira Martins levou à Câmara dos Deputados uma bancada liberal, eleita sob gabinete conservador. Entre 1868 e 1878 o “Sansão do império”, como era chamado, tornou-se o ídolo dos liberais.[29][45]
Em 1874, foi instalado, em Porto Alegre, o Tribunal da Relação, libertando a província da dependência do Rio de Janeiro. Ao elenco das iniciativas oficiais se acrescentou o incremento das correntes migratórias — entre 1875 e 1889 chegaram ao Rio Grande do Sul mais de sessenta mil italianos—que, sobre a base agrícola, expandiram sua atividade no artesanato de produtos de couro e têxteis e na produção do vinho. O carvão passou a ser explorado a partir de 1866.[29][45] No quadro do progresso, um desajuste interno perturbou a sociedade. A estância, cada vez mais estruturada como empresa lucrativa, limitadas suas necessidades a poucos braços, abandonou o excedente, sem que este se adaptasse às zonas agrícolas — onde, de resto, não lhes davam terras. Uma camada nômade, que se engrossou com os libertos, passou a errar pelos campos, vivendo das ocupações eventuais e do crime. O Partido Liberal, como resultado paradoxal de sua política de vínculo com o centro, perdeu o ímpeto popular. Fundou-se, então, o Partido Republicano, no qual desde logo se destacou, como jornalista, Júlio Prates de Castilhos.[29][45] A oficialidade que servia no Rio Grande do Sul, entre a qual se contava Deodoro da Fonseca, ligou-se aos rebeldes, sendo a união cimentada pelo positivismo, estuário comum de civis e militares. Tão veemente seria o vínculo que, em 21 de março de 1889, os propagandistas traçaram, como linha de ação, o levante armado, na eventualidade do terceiro reinado.[29][45]
O ousado plano da rebelião armada frustrou-se por obra das circunstâncias, diante da surpresa da proclamação da república por Deodoro, comunicada aos propagandistas e conjurados pelo telégrafo.[45] Dias antes Silveira Martins transmitira o governo a Justo de Azambuja Rangel.[46] Este, por intimação de Deodoro, passou o cargo ao marechal José Antônio Correia da Câmara, visconde de Pelotas, de extração liberal.[29][47]
Gaspar Silveira Martins, então senador, chamado pelo imperador para organizar o derradeiro gabinete do império, foi preso e deportado. Com o visconde de Pelotas tentou-se a conciliação local. Seus secretários, entre eles Júlio de Castilhos e Ramiro Barcelos, rejeitaram a conciliação, mantendo a linha partidária. Entre os liberais e os republicanos não havia meio-termo possível, definidos os últimos na carta estadual autocrática de 14 de julho de 1891, promulgada entre ásperas dissensões, que culminariam na revolução de 1893.[29][47] Em pouco mais de três anos, 15 chefes do governo estadual, com o interregno de uma junta governativa, definiram a profundidade da instável situação política. Somente em 25 de janeiro de 1893 Júlio de Castilhos assumiu a presidência do estado, para, completando o mandato de cinco anos, transmiti-la a Antônio Augusto Borges de Medeiros, que, apenas com o hiato de um qüinqüênio, governaria o Rio Grande até 1928.[29][47] Já então o Rio Grande se dividia entre gasparistas — Silveira Martins retornou do exílio em 1892—e castilhistas—já com Júlio de Castilhos na chefia incontestável dos republicanos. Ambas as facções se definiam pelo federalismo, bandeira que, depois de arvorada pelos farroupilhas, se incorporou ao ideário gaúcho.[29][47]
A ferro e fogo, o Partido Republicano conquistou as bases eleitorais e o controle político, reforçado, mais tarde, por uma poderosa milícia estadual, a Brigada Militar. Na revolução Federalista, que se prolongou por trinta meses, com dez mil mortos, na mais cruenta das guerras civis brasileiras, o castilhismo impôs-se ao estado, abatendo a oposição, sem a aniquilar. Os chefes, formados na tradição do cavalheirismo, não puderam deter a onda de terror que invadiu os campos e extravasou, nas colunas revolucionárias e legalistas, nos outros dois estados do Sul, Paraná e Santa Catarina.[29][47] A insurreição, apesar de mobilizar milhares de combatentes, limitou-se à guerrilha, incapaz de assegurar posições estáveis. Tampouco conseguiu sensibilizar os imigrantes, seus descendentes ou a população do leste, onde Porto Alegre avultara como centro econômico, político e administrativo.[29][47]
A Revolução Federalista de 1893 revelou o extraordinário talento guerreiro de Gumercindo Saraiva. Sua coluna, abandonando a orla da fronteira uruguaia, ao longo de 18 meses de combates, empreendeu uma marcha de 2,5 mil km até Itararé, onde se deteve, incapaz de penetrar no estado de São Paulo. No seu encalço, o chefe legalista Pinheiro Machado combateu-o tenazmente, repelindo a surpresa do ataque com a surpresa do revide.[29][47] Morto o chefe rebelde em 10 de agosto de 1894, a guerra entrou em rápido declínio, limitada a irrupções momentâneas e descoordenadas. A paz, assinada em 23 agosto de 1895, depois que os insurretos fracassaram em Campo Osório, pôs termo ao dissídio, sem que o Partido Republicano pudesse ditar, sob o controle de Prudente de Morais, os termos da vitória.[29][47]
Já estava quase no fim o longo consulado de Borges de Medeiros. O castilhismo, de que se fizera continuador, perdera substância. Uma nova mentalidade exigia reformas sociais e postulava mudanças de estrutura, não mais se contentando com o simples jogo das influências partidárias. Foi nesse ambiente que Getúlio Vargas, então modesto advogado de São Borja, começou sua carreira política. Deputado estadual e federal, líder da bancada gaúcha na Câmara Federal e depois ministro da Fazenda, acabou por eleger-se presidente do estado em 1928. Sua primeira preocupação no governo foi pacificar os espíritos, para o que constituiu a Frente Única, integrada inclusive pelo Partido Libertador, herdeiro do Partido Federalista e em cujas fileiras passariam a militar muitos dos revolucionários de 1923.[29][47]
A habilidade de Vargas conquistou confiança e repercutiu de imediato em outros pontos do país, sensibilizando a opinião e atraindo a simpatia de políticos como Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente de Minas Gerais, que se uniu ao da Paraíba para lançar a Aliança Liberal, em favor da candidatura do presidente gaúcho à sucessão de Washington Luís. A vitória de Júlio Prestes, candidato do oficialismo, num ambiente de opressão e fraude, descontentou a opinião pública, levando-a a prestigiar a liderança que articulou a revolução de 1930.[29][47]
Depois que São Paulo, por via revolucionária, tentara reaver o comando político da nação, em 1932, a vida do país havia retornado à normalidade constitucional, com Getúlio Vargas à frente do governo, em 1934, até a implantação do centralismo de 1937, o qual viria a afetar substancialmente a autonomia gaúcha, tanto quanto a das demais unidades da federação. A nova estrutura nacional impunha assim sua configuração às mudanças internas ocorridas no estado.[29][47]
A tendência então era de superar o isolacionismo econômico e político em que até então se mantivera o Rio Grande do Sul. A indústria e a agricultura conquistariam gradativamente relevo no confronto com a estância. A criação do Banco do Rio Grande do Sul, durante o governo de Getúlio Vargas, reanimaria as atividades pecuárias e agrícolas do estado.[29][47]
O estado, embora sem veleidades hegemônicas, conquistara o poder supremo da república. Por imposição de forças de caráter nacional — Exército, povo e indústria –, modificou-se substancialmente a estrutura federal. Rivais de velha data, os partidos tradicionais rio-grandenses, o Republicano e o Federalista, este último depois denominado Libertador, engajaram-se no movimento político decorrente da ação revolucionária de São Paulo, ao passo que a massa popular gaúcha se manteve fiel aos princípios de 1930. O general Flores da Cunha, interventor federal no Rio Grande, valeu-se desse choque de correntes para organizar, sob sua presidência, um partido local—o Partido Republicano Liberal Rio-Grandense (PRL) –, no qual se reuniram dissidentes daqueles dois partidos, comandantes dos corpos provisórios da milícia estadual e prefeitos municipais.[29][48]
Na Assembleia Constituinte, de cuja atuação resultaria a Carta de 1934, quase toda a bancada gaúcha era integrada por elementos do novo partido. Flores da Cunha, nessa data, eleito indiretamente, passaria a governador do estado, mas sem dispor de maioria que lhe permitisse agir inteiramente livre da partilha do poder com o adversário. Dissensões locais acabaram por atingir o PRL, quando o agravamento das condições de vida política do estado chegou ao ponto de levar o governador a desavir-se com o presidente da república. Com o golpe de 1937, Flores da Cunha renunciou. O estado, antes das eleições fixadas pela constituição de 1946, teria sete interventores, inclusive um interino.[29][48]
No setor das obras públicas, de 1930 ao início do Estado Novo, registrou-se sensível desenvolvimento das rodovias e estradas de ferro estaduais; quanto ao fluxo do comércio marítimo, iria incrementar-se por meio da aquisição, pelo governo, da frota rio-grandense. Uma política de continuidade e de planejamento, no tocante à rede viária, só seria adotada a partir da criação, após 1938, do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER).[29][48] Reaberto o debate partidário em fins de 1945, os velhos partidos e os velhos políticos não lograram restaurar as lealdades antigas e a bandeira de suas reivindicações anteriores a 1930. Somente resistiu, limitadíssimo no número de partidários, o Partido Libertador (PL), sobrepujado pelo Partido Social Democrático (PSD), que na primeira eleição elegeu quase a totalidade dos deputados federais, e pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de fulminante crescimento.[29][48]
O primeiro governador eleito seria Walter Jobim, do PSD, seguido pelo general Ernesto Dorneles, do PTB. Em seqüência, elegeu-se o engenheiro Ildo Meneghetti, sucedido pelo engenheiro Leonel Brizola, do PTB, que, por sua vez, com a derrota de seu partido, não evitou o retorno daquele.[29][48] Na verdade, depois de 1945, o estado se dividiu em dois partidos—o PSD e o PTB—coligados, eventualmente, aos menores. Somente na década de 1960 prepararam-se no estado as bases para a implantação da grande indústria, além da exploração, em moldes capitalistas e modernizados, da pecuária e da agricultura, particularmente o arroz, o trigo e, mais tarde, a soja.[29][48]
O estado desempenhou importante papel na evolução da ordem política nacional, sobretudo a partir da ditadura militar de 1964, durante o qual três gaúchos, escolhidos pelo Exército Brasileiro, assumiram a presidência da república: Arthur da Costa e Silva. Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel. No governo do estado, o coronel Válter Peracchi Barcelos, eleito indiretamente em 1967, deu início à implantação de amplo programa energético. Com a ajuda do poder central, as administrações de seus sucessores Euclides Triches, Sinval Sebastião Duarte Guazzelli e José Amaral de Sousa construíram rodovias modernas e ampliaram o porto do Rio Grande. Outro fator de progresso foi o reaparelhamento da Viação Aérea Rio-Grandense (Varig), que se tornou a mais importante empresa aérea do país,[29][48] extinta em 2006 e comprada em 2007 pela Gol Transportes Aéreos. Em 1983 assumiu o governo Jair de Oliveira Soares, sucedido por Pedro Jorge Simon e, depois, por Guazzelli foi substituído em 1991 por Alceu Colares, que 1995 empossou seu sucessor, Antônio Britto.[29][48]
O estado do Rio Grande do Sul ocupa uma área de 281 730,223 km²[2][nota 2] (cerca de pouco mais que 3% de todo território nacional, equivalente ao do Equador)[49] e com fuso horário -3 horas em relação a hora mundial GMT.[50]
Todo o seu território está ao sul do Trópico de Capricórnio.[51] No Brasil, o estado faz parte da região Sul,[52] fazendo fronteiras com o estado de Santa Catarina e dois países: Uruguai e Argentina.[53] É banhado pelo oceano Atlântico e possui duas das maiores lagoas do Brasil: a Lagoa Mirim e a Lagoa Mangueira, além de possuir uma das maiores lagunas do mundo: a Lagoa dos Patos, que possui água salobra.[53] Sua população constitui cerca de 6% do número de habitantes do país.[49]
O estado do Rio Grande do Sul apresenta, em sua maior parte, relevo baixo, com setenta por cento de seu território a menos de 300m de altitude. A única porção elevada, com mais de 600m de altitude, no nordeste, compreende 11% da superfície total. Podem-se descrever quatro unidades morfológicas no estado: a planície litorânea, o planalto dissecado de sudeste, a depressão central e o planalto basáltico.[54][55]
Também conhecida como planície litorânea. Toda a fachada leste do estado é ocupada pela planície litorânea, que consiste em terrenos arenosos com cerca de 500 km de extensão no sentido nordeste-sudoeste e largura muito variável. Os areais se desenvolvem tanto nas margens orientais quanto nas ocidentais das lagoas dos Patos e Mirim. Essas lagoas apresentam um desenho característico, com recorte lobulado, em virtude das pontas de areia que de uma e outra margem se projetam para dentro delas. Ao contrário do que acontece no interior das lagoas, a linha da costa apresenta traçado regular. A planície litorânea é constituída pela justaposição de cordões litorâneos (restingas), que às vezes deixam entre si espaços vazios ocupados por lagoas alongadas ou banhados (antigas lagoas colmatadas).[54][55]
Também denominado impropriamente serras de Sudeste, o planalto dissecado de sudeste compreende um conjunto de ondulações cujo nível mais alto não ultrapassa 500 m. Trata-se de um planalto antigo, cuja superfície tabular só foi preservada entre alguns rios. Esses terrenos pré-cambrianos constituem o chamado escudo rio-grandense e ocupam toda a porção sudeste do estado, formando uma área triangular cujos vértices correspondem aproximadamente às cidades de Porto Alegre, Dom Pedrito e Jaguarão. O conjunto está dividido, pelo vale do rio Camaquã, em duas grandes unidades, uma ao norte e outra ao sul, denominadas serras de Herval e Tapes, respectivamente. É o domínio típico das campinas, cuja melhor expressão é encontrada na campanha gaúcha.[54][55]
Constituída por terrenos da era paleozoica, a Depressão Central forma um arco em torno do planalto dissecado de sudeste, envolvendo-o dos lados norte, oeste e sul. Forma um amplo corredor com aproximadamente cinquenta quilômetros de largura média e 770 km de extensão, dos quais 450 no sentido leste-oeste, 120 no sentido norte-sul e 200 no sentido oeste-leste. A topografia suave e a pequena altitude em relação ao nível do mar (menos de cem metros), permitem classificar a depressão central como uma planície suavemente ondulada.[54][55]
Representa a porção sul do Planalto Meridional do Brasil. O norte e parte do oeste do estado são ocupados pelo Planalto Basáltico, que descreve uma meia-lua em torno da depressão central. Esse planalto, que tem como traço marcante a estrutura geológica, é formado pelo acúmulo ou empilhamento de sucessivos derrames basálticos (isto é, derrames de lava), intercalados de camadas de arenito. Alcançam espessura muito variável. No nordeste do estado registra-se a espessura máxima, responsável pela maior elevação do planalto nessa área.[54][55]
A superfície do planalto apresenta uma inclinação geral de leste para oeste. No nordeste, junto ao litoral, alcança sua maior elevação, entre mil e 1,1 mil metros; em Vacaria atinge 960 m; em Carazinho, 602 m. Em Cruz Alta, 469 m; no extremo oeste do estado, junto à barranca do rio Uruguai, não ultrapassa cem metros. A topografia é plana ou levemente ondulada, mas os rios, que banham a parte mais elevada, abriram nela profundos sulcos ou vales, isolando compartimentos tabulares.[54][55]
Um aspecto saliente do planalto é a forma de transição para as terras mais baixas com que se articula. A nordeste, cai diretamente sobre a planície litorânea, com um paredão íngreme ou escarpa, de quase mil metros de desnível: são os chamados “aparados da serra”. Os rios favorecidos pelo forte declive abriram aí profundas gargantas ou taimbés. Nesse trecho, próximo à divisa com Santa Catarina, a escarpa à borda do planalto corre paralela à costa. À altura de Osório, desvia-se bruscamente para oeste e a partir daí vai diminuindo progressivamente de altura. Nesse trecho voltado para o sul, os rios que correm para a depressão central abriram amplos vales. O rebordo do planalto basáltico recebe no Rio Grande do Sul, como nos demais estados meridionais, a denominação de Serra Geral.[54][55]
No Rio Grande do Sul, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade existem 40 unidades de conservação, sendo 1 área de proteção ambiental, 1 área de relevante interesse ecológico, 2 estações ecológicas, 3 florestas nacionais, 3 parques nacionais, 1 refúgio de vida silvestre e 29 reservas particulares do patrimônio natural.[56][57]
As unidades de conservação administradas pelo governo brasileiro são o Parque Nacional da Serra Geral, o Parque Nacional dos Aparados da Serra, o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, a Floresta Nacional de Canela, a Floresta Nacional de São Francisco de Paula, a Floresta Nacional de Passo Fundo, a Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã, a Área de Relevante Interesse Ecológico Pontal dos Latinos e Pontal dos Santiagos a Estação Ecológica de Aracuri-Esmeralda, a Estação Ecológica do Taim, e o Refúgio de Vida Silvestre da Ilha dos Lobos.[56][57]
O estado, que foi pioneiro do movimento ecológico no Brasil,[58] hoje enfrenta uma série de problemas ambientais graves[59][60][61][62] e uma crônica carência de recursos materiais e humanos para a área.[63] Há uma longa lista de espécies ameaçadas.[64][65] Por outro lado, projetos do governo e iniciativas privadas estão tentando reverter este quadro e difundir a conscientização ecológica entre a população,[66][67][68][69][70] e existe expressiva legislação ambiental, embora em anos recentes ela venha sendo desmantelada por pressões políticas e econômicas, gerando muitos protestos de cientistas, juristas e ambientalistas.[71][72][73]
Dois tipos climáticos caracterizam o Rio Grande do Sul: o clima subtropical úmido e o clima oceânico.[74] O clima subtropical úmido possui chuvas bem distribuídas durante o ano e verões quentes (Cfa na escala de Köppen), ocorrendo na maior parte do estado. Registra temperaturas médias anuais de entre 18 °C e 20 °C. O clima oceânico (Cfb) também apresenta chuvas bem distribuídas durante o ano, mas os verões são amenos. Ocorre nas porções mais elevadas do território sul-rio-grandense, isto é, na porção mais alta do planalto basáltico, e no Planalto Dissecado de Sudeste, registrando temperaturas médias anuais entre 13 °C e 17 °C.[74]
Quanto ao regime pluviométrico, a zona mais chuvosa do estado é a Serra Gaúcha, com precipitações ao redor de 1,9 mil mm, enquanto que a parte onde menos chove no estado é o extremo sul, com pluviosidade média anual em torno de 1,1 mil mm no município de Santa Vitória do Palmar.[74] Dos ventos que sopram no estado, dois têm denominações locais: o pampeiro, vento tépido, procedente dos pampas argentinos; e o minuano, vento frio e seco, originário dos contrafortes da cordilheira dos Andes.[74]
A temperatura mínima registrada oficialmente no estado foi de -9,8 °C, no município de Bom Jesus, em 1º de agosto de 1955.[75] Também há um registro, extra-oficial, de -11 °C no município de São José dos Ausentes (no termômetro da subprefeitura, quando o município ainda era distrito de Bom Jesus), em 2 de agosto de 1991.[76] A temperatura máxima oficialmente registrada no estado foi de 42,9 °C em Uruguaiana, no oeste do estado, em 27 de fevereiro de 2022,[77] superando os 42,6 °C de Alegrete, no oeste do Rio Grande do Sul, em 19 de janeiro de 1917, e de Jaguarão, no sul do estado, em 1° de janeiro de 1943.[78][79] Foi registrada a temperatura máxima de 43,7 °C no município de Alpestre, no extremo norte do estado, em janeiro de 2022, mas o recorde não é oficial.[80] Municípios como Uruguaiana, Lajeado e Campo Bom destacam-se em recordes de temperaturas altas no verão, registrando valores que, por vezes, chegam aos 40 °C.[74] O estado está ainda sujeito, no outono e no inverno, ao fenômeno do veranico, que consiste de uma sucessão de dias com temperaturas anormalmente elevadas para a estação.[74]
O estado está subdivididos em três grandes regiões hidrográficas: Região Hidrográfica do Uruguai, que inclui a bacia hidrográfica do Rio Uruguai e a bacia hidrográfica do Rio Negro; Região Hidrográfica do Guaíba, cobrindo a bacia hidrográfica do Rio Guaíba; e a Região Hidrográfica do Litoral, compreendendo as bacias litorâneas.[82][83]
A rede de drenagem compreende rios que pertencem à bacia do Uruguai e rios que correm para o Atlântico. Os rios Jacuí, Taquari, Caí, Gravataí, Lago Guaíba e dos Sinos, entre outros, são razoavelmente aproveitados para a navegação. Toda a região ocidental do estado e uma estreita faixa de terras ao longo da divisa com Santa Catarina pertencem à bacia do Uruguai. Compreende, além do rio Uruguai e seu formador, o Pelotas, os afluentes da margem esquerda: o Passo Fundo, o Ijuí, o Piratini, o Ibicuí, e o Quaraí.[84]
À vertente atlântica pertence toda a metade oriental do estado, drenada por rios cujas águas, antes de atingir o Atlântico, vão ter a uma das lagoas litorâneas. Assim, a lagoa Mirim recolhe as águas do rio Jaguarão, a lagoa dos Patos, as dos rios Turuçu, Camaquã e Jacuí, as deste último por meio do estuário denominado Guaíba. A lagoa dos Patos se comunica com a lagoa Mirim através do canal de São Gonçalo, e com o Atlântico por meio da barra do Rio Grande. Além das duas grandes lagoas, há numerosas outras, menores, na planície litorânea, entre elas a Itapeva, dos Quadros, do Peixe e Mangueira.[84]
Dois tipos de cobertura vegetal ocorrem no Rio Grande do Sul: campos e florestas. Os campos ocupam cerca de 66% da superfície do estado. De modo geral recobrem as áreas de topografia regular, plana ou ligeiramente ondulada, ou seja, a depressão central e a maior parte do planalto basáltico.[85]
As florestas cobrem 29% do território estadual. Aparecem na encosta e nas porções mais acidentadas no planalto basáltico, no planalto dissecado de sudeste e, ainda, na forma de capões e matas ciliares, dispersas pelos campos, que recobrem o resto do estado. Nas áreas de maior altitude, com mais de 400 m, domina a chamada mata de pinheiros, uma floresta mista de latifoliadas e coníferas, a chamada mata de pinheiros. Nas demais áreas ocorre a floresta latifoliada.[85]
Nos dois tipos de floresta está presente a erva-mate, objeto de exploração econômica desde o início do povoamento do estado. Em cerca de cinco por cento do território ocorre a vegetação do tipo litorâneo, que se desenvolve nos areais da costa.[85]
Crescimento populacional | |||
---|---|---|---|
Censo | Pop. | %± | |
1872 | 434 813 | ||
1890 | 897 455 | 106,4% | |
1900 | 1 149 070 | 28,0% | |
1920 | 2 182 713 | 90,0% | |
1940 | 3 320 689 | 52,1% | |
1950 | 4 674 645 | 40,8% | |
1960 | 5 448 823 | 16,6% | |
1970 | 6 755 458 | 24,0% | |
1980 | 7 942 722 | 17,6% | |
1991 | 9 135 479 | 15,0% | |
2000 | 10 181 749 | 11,5% | |
2010 | 10 693 929 | 5,0% | |
Est. 2017 | 11 322 895 | [86] | 5,9% |
Fonte:[87] |
De acordo com o censo 2010 o Rio Grande do Sul tinha uma população de 10 693 929 habitantes,[88] sendo mais populoso que Portugal.
Dez anos antes, segundo o censo demográfico de 2000, o Rio Grande do Sul tinha uma população de 10 187 798 hab. Em 1991, o estado contava com 9 127 611 habitantes. Esses números mostram que a taxa de crescimento demográfico na última década foi de 1,2% ao ano, abaixo portanto da média do país como um todo (1,33% anuais). Em 2010, segundo cálculos do IBGE, era 5º estado mais populoso do país, e efetivamente, o mais populoso da Região Sul — abrigando cerca de 6% da população brasileira. Do total da população do estado, 5 488 872 habitantes pertencem ao sexo feminino e 5 205 057 habitantes ao sexo masculino (dados de 2010).
O Rio Grande do Sul pode ser dividido em quatro regiões culturais, nas quais predominaram etnias diferentes que, a partir da relação sociedade-natureza e por meio de sistemas simbólicos que se materializaram na paisagem via códigos culturais, formaram zonas com características próprias. O estado pode ser decomposto, portanto, nas seguintes regiões: região cultural 1 (individualizada pela presença das etnias nativa, portuguesa, espanhola, africana e açoriana); região cultural 2 (formada pela presença de alemães); região cultural 3 (marcada pela etnia italiana) e a região cultural 4 (conformada pela presença de etnias mistas).[89]
Atualmente, a população autodeclara-se da seguinte maneira quanto à raça: 82,3% como brancos, 11,4% como pardos, 5,9% como pretos e 0,4% como amarelos ou indígenas.[90]
Além do idioma oficial, o português, no Rio Grande do Sul outros idiomas também são falados por parte da população, como o caingangue ou o mbyá-guaraní, de povos autóctones, e também o Portunhol Riverense em regiões fronteiriças.
Considerável parte do povo gaúcho, em geral os descendentes de imigrantes alemães e italianos, dentre outros, também falam os seguintes idiomas: Riograndenser Hunsrückisch (um idioma regional sul-brasileiro falado desde há quase dois séculos pela maioria dos teuto-brasileiros no Rio Grande do Sul);[91] o Plattdietch ou plattdüütsch (junção dos dialetos do baixo-alemão a qual pertence o dialeto Pomerano falado em várias regiões do sul do Brasil); Talian (versão sul-brasileira do vêneto);[92] Castelhano (falado nas regiões fronteiriças do Brasil com a Argentina e Uruguai, Paraguai, Bolívia etc.); e em menor escala, ainda existem vários outros núcleos de idiomas e dialetos no Rio Grande do Sul, como polonês, lituano, árabe e iídiche.
O Rio Grande do Sul é um estado em que a população urbana supera a rural. Segundo o censo demográfico de 2000, 80,8% da população moram em cidades. Nesse mesmo ano a densidade demográfica do estado chegou a 36,14 habitantes./km², mais de duas vezes superior à do Brasil como um todo (19,92 habitantes./km²).
A área mais densamente povoada do Rio Grande do Sul está na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde se registram algumas densidades acima de 2 mil hab./km². Formada por trinta municípios, sua população é de aproximadamente 4 milhões de habitantes, a quarta maior aglomeração urbana do país. Seguem-se o litoral norte e a encosta do planalto, a leste da serra Geral e o Vale do Taquari com densidades próximas de 50 hab./km². A zona do alto Uruguai, a noroeste, e as áreas centralizadas por Passo Fundo e Iraí, apresentam densidades entre 30 e 40 hab./km². No sul do estado, as densidades raramente ultrapassam 10 hab./km². Somente em torno de Pelotas a população aparece mais concentrada, chegando a mais de 20 hab./km². A capital do estado, é a décima cidade brasileira em população. Situada à margem do rio Guaíba, Porto Alegre tem um movimentado porto fluvial e é o mais importante centro industrial, comercial e cultural do Rio Grande do Sul.
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