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Belo Horizonte é um município brasileiro e a capital do estado de Minas Gerais. Sua população estimada pelo IBGE para 1.º de julho de 2021 era de 2 530 701 habitantes,[4] sendo o sexto município mais populoso do país, o terceiro da Região Sudeste e primeiro de seu estado.[8] Com uma área de aproximadamente 331 km², possui uma geografia diversificada, com morros e baixadas. Com uma distância de 716 quilômetros de Brasília, é a segunda capital de estado mais próxima da capital federal, depois de Goiânia.
Cercada pela Serra do Curral, que lhe serve de moldura natural e referência histórica, foi planejada e construída para ser a capital política e administrativa do estado mineiro sob influência das ideias do positivismo, num momento de forte apelo da ideologia republicana no país.[9] Sofreu um inesperado crescimento populacional acelerado, chegando a mais de um milhão de habitantes com quase setenta anos de fundação. Entre as décadas de 1930 e 1940, ocorreu também o avanço da industrialização, além de muitas construções de inspiração modernista, notadamente as casas do bairro Cidade Jardim, que ajudaram a definir a fisionomia da cidade.
A capital mineira é sede da terceira concentração urbana mais populosa do país.[10][11] Belo Horizonte já foi indicada pelo Population Crisis Commitee, da ONU, como a metrópole com melhor qualidade de vida na América Latina e a 45.ª entre as 100 melhores cidades do mundo (dados de 2008).[12] Em 2010, a cidade gerou 1,4% do PIB do país,[13] e, em 2013, era o quarto maior PIB entre os municípios brasileiros, responsável por 1,53% do total das riquezas produzidas no país. Uma evidência do desenvolvimento da cidade nos últimos tempos é a classificação da revista América Economía, na qual, já em 2009, Belo Horizonte aparecia como uma das dez melhores cidades latino-americanas para fazer negócios, segunda do Brasil (atrás de São Paulo) e à frente de cidades como Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba.[14]
Belo Horizonte é classificada como uma metrópole e exerce significativa influência nacional, seja do ponto de vista cultural, econômico ou político.[15] Conta com importantes monumentos, parques e museus, como o Museu de Arte da Pampulha, o Museu de Artes e Ofícios, o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, o Circuito Cultural Praça da Liberdade, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, o Mercado Central e a Savassi, e eventos de grande repercussão, como o Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua (FIT-BH), o Verão Arte Contemporânea (VAC), o Festival Internacional de Curtas e o Encontro Internacional de Literaturas em Língua Portuguesa. É também nacionalmente conhecida como a “capital nacional dos botecos”, por existirem mais bares per capita do que em qualquer outra grande cidade do Brasil.
O reconhecimento da presença dos povos originários na região foi observado pelo padre João Aspicuelta Navarro, em 1555, por meio de uma carta que este redigiu sobre os nativos nos campos e nas florestas.[16] A população originária que habitou o atual estado de Minas Gerais está relacionada com o tronco linguístico macro-jê, os povos conhecidos como tapuias, alcunha concedida pelos seus inimigos tupis. As ocupações indígenas no território mineiro, nos séculos XVI e XVII foram esparsas e comunidades com a mesma identificação ocupavam áreas distintas. Os povos que viveram mais próximos da atual cidade de Belo Horizonte foram os cataguás, goianás, guarachués e botocudos.[17] Os cataguás ou cataguases eram tapuias,[18] e foram um povo extremamente relevante para Minas Gerais, que marcavam presença no território desde o início do período colonial, visto que o estado era conhecido como Campos Gerais dos Cataguases e Minas Gerais dos Cataguases.[19]
Acerca da população dos goianás e guarachués não há muita informação escrita, pois foram menos documentados pelas fontes portuguesas e nacionais e sofreram a descontinuidade de seus saberes ancestrais, dado seu extermínio. Os goianás viviam nas áreas da comarca do Rio das Velhas, mais especificamente próximos ao rio. Por serem mais pacíficos e acessíveis ao convívio com o homem branco, lutaram ao lado dos bandeirantes nas batalhas travadas em Minas no século XVII.[20][21] Os guarachués habitavam a região da comarca de Vila Rica e foram vítimas dos bandeirantes na busca pelo ouro.[22] O termo significa guará vagaroso, pois estes andavam com os lobos guará.[23]
Os botocudos pertenciam ao tronco linguístico macro-jê e o nome se deve aos ornamentos que utilizavam no lábio e nas orelhas com rodelas, os botoques,[24] uma designação pejorativa e generalizante de povos tão distintos. Outras denominações são boruns, aimorés e bugres.[25] Uma das tradições que estes povos preservavam era o rito da antropofagia e eram considerados os “perigosíssimos ‘tapuais’ do período colonial”.[26] A presença desses grupos é relatada desde o século XVI até XX por fontes históricas primárias, com designações variadas.[27] Os botocudos eram um dos povos que não utilizavam louças de barro, o que diminui as informações acerca da alimentação, arte e vivência social que apresentavam.[28] Além disso, os bugres eram povos nômades e se locomoviam constantemente pelo território. O nome dessa comunidade é generalista e estes integraram diversas outras tribos ao longo do tempo, entre estes, o que ocupou a região próxima à capital, a comunidade Pataxó.[29]
Os pataxós pertencem ao tronco macro-jê e são originários da região sul da Bahia. Sua existência foi documentada pela primeira vez em uma expedição de Salvador Correa de Sá em 1577, quando os encontrou nas proximidades do Rio Doce.[30] Na contemporaneidade há uma diferenciação entre os grupos pataxós de Minas Gerais e da Bahia, sendo o último os Pataxó-hã-hã-hães. O nome é uma autodenominação utilizada por esse grupo, que se relaciona com a água. Além disso, seu idioma é o Patxohã, língua ancestral que querem avivar,[31] que se integra na família linguística dos Maxakalí. Apesar de serem historicamente um povo seminômade, na atualidade estes vivem em regiões delimitadas. Uma das razões da migração dos nativos no século XX para o território mineiro é o Fogo de 51, uma ação violenta da polícia baiana contra a aldeia em que viviam, como também a demarcação do Parque Nacional do Monte Pascoal em 1961.[32] Além, dos pataxós, outras populações indígenas vivem na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a exemplo dos aranãs, xakriabás, kaxixós, karajás, guaranis e kamakã. Dados do censo do IBGE de 2010 indicam que mais de sete mil pessoas se identificaram como indígenas somente em Belo Horizonte.[32]
Até o século XVI, o atual estado de Minas Gerais era habitado por índios do tronco linguístico macro-jê. A partir desse século, essas tribos foram quase exterminadas pela ação dos bandeirantes procedentes principalmente da vila de São Paulo de Piratininga, que chegaram à região em busca de escravos e de pedras preciosas.[33][34]
Na imensa faixa de terras ao largo do Rio das Velhas assenhoradas pelo bandeirante Paulista Bartolomeu Bueno da Silva (mais tarde Anhanguera II), veio seu primo e futuro genro, João Leite da Silva Ortiz, à procura de ouro. Ele ocupou, em 1701, a Serra dos Congonhas (mais tarde Serra do Curral) e suas encostas, onde estabeleceu a Fazenda do Cercado, base do núcleo do Curral del Rei. No local, desenvolveu uma pequena plantação e criou gado, com numerosa escravatura.[35] O povoamento aos poucos foi se firmando, de forma tal que, em 1707, já aparecia citada em documentos oficiais. Em 1711, a carta de sesmaria foi obtida por Ortiz, com a concessão da área que “começava do pé da Serra do Curral, até a Lagoinha, estrada que vai para os currais da Bahia, que será uma légua, e da dita estrada correndo para o rio das Velhas três léguas por encheio”.[36] Conforme trecho da carta de sesmaria, à ortografia da época, concedida por Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho:[37]
Faço saber aos q’. esta minha Carta de Sesmaria virem q’, havendo respto. ao q’. por sua petição me enviou a dizer João Leyte da Silva, q’. ele suppte., em o ano passado de 1701 fabricou fazenda em as minas no distrito do Rio das Velhas em a paragem aonde chamão o Sercado, e na dita fazda. teve plantas e criações, de que sempre pagou dízimos e situou gado vacum, tudo em utelidade da fazenda real e conveniência dos minros. (…)
Ortiz dedicou-se especialmente ao plantio de roças, criação e negociação de gado, trabalhos de engenho e, provavelmente, a mineração de ouro nos córregos. O progresso da fazenda atraiu outros moradores, e um arraial começou a se formar, tornando-se um dos pontos de concentração dos rebanhos transitados pelo registro das Abóboras, vindos do sertão da Bahia e do São Francisco para o abastecimento das zonas auríferas.[38]
Apoiado na pequena lavoura, na criação e comercialização de gado e na fabricação de farinha, o arraial progrediu. A topografia da região favoreceu o estabelecimento de uma povoação dada à agricultura e à vida pastoril. Os habitantes deram o nome de Curral del Rei, por causa do cercado ou curral ali existente, em que se reunia o gado que havia pago as taxas do rei, segundo a tradição corrente. O arraial contava com umas 30 ou 40 cafuas cobertas de sapé e pindoba, entre as quais foi erguida uma capelinha situada à margem do córrego Acaba-Mundo (onde hoje se encontra a catedral), tendo à frente um cruzeiro e ao lado um rancho de tropas.[39] Algumas poucas fábricas, ainda primitivas, instalaram-se na região, onde se produzia algodão e se fundia ferro e bronze. Das pedreiras, extraía-se granito e calcário, e frutas e madeiras eram comercializadas para outros locais. Das trinta ou quarenta famílias inicialmente existentes, a população saltou para a marca de 18 mil habitantes.[40][41]
Em 1750, por ordem da Coroa, foi criado o distrito de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral, então sede da freguesia do mesmo nome instituída de fato em 1718 em torno de capela ali construída pelo Padre Francisco Homem, filho de Miguel Garcia Velho. Elevado à condição de freguesia em 1780,[42] mas ainda subordinado a Sabará, o Curral del Rei englobava as regiões (ou curatos) de Sete Lagoas, Contagem, Santa Quitéria (Esmeraldas), Buritis, Capela Nova do Betim, Piedade do Paraopeba, Brumado, Itatiaiuçu, Morro de Mateus Leme, Neves, Aranha e Rio Manso. No centro do arraial, os devotos ergueram a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Com a extinção dos curatos, a jurisdição do Curral del Rei viu-se novamente reduzida ao primeiro arraial, com sua população de 2.500 habitantes, que chegou a 4 000 moradores já ao fim do século XIX.[40][41]
O seguinte trecho do relatório enviado à Cúria de Mariana pelo vigário Pe. Francisco de Paula Arantes, conservada a ortografia, relata a paisagem característica da região à época:[41]
A Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem de Curral del Rei está situada em campos amenos na extensa planície de sua serra donde manão imensas fontes de cristalinas e saborosas águas; o clima da região he temperado; a atmosphera he salutifera; está circulada de pedras e mais materiais onde se podem fazer soberbos edifícios; a natureza criou este logar para sua formosa e linda cidade, si algum dia for auxiliada esta lembrança.
Porém, enquanto Vila Rica, Sabará, Serro Frio e outros núcleos mineradores se constituíam em centros populosos e ricos, Curral del Rei e sua vocação para o comércio do gado sertanejo estacionou em seu desenvolvimento, não oferecendo lucro que fixasse ao solo uma população como a de outros lugares.[43] O apogeu de Ouro Preto perdurou até o fim do século XVIII, quando as jazidas esgotaram-se e o ciclo do ouro deu lugar à pecuária e à agricultura, criando novos núcleos regionais e inaugurando uma nova identidade estadual.[44]
A então capital de Minas Gerais, a cidade de Ouro Preto, não apresentava alternativas viáveis ao desenvolvimento físico urbano, o que gerou a necessidade da transferência da capital para outra localidade.[45] Com a República e a descentralização federal, as capitais tiveram maior relevo: ganhava vigor a ideia de mudança da sede do governo mineiro, pois a antiga Ouro Preto era travada pela topografia. O governador Augusto de Lima encaminhou a questão ao Congresso Mineiro, que, reunido em Barbacena, em sessão de 17 de dezembro de 1893, indicou pela lei n. 3, adicional à Constituição Estadual, a disposição de que a mudança da capital ocorresse para local que reunisse as condições ideais. Cinco localidades foram sugeridas: Juiz de Fora, Barbacena, Paraúna, Várzea do Marçal e Belo Horizonte. A comissão técnica, chefiada pelo engenheiro Aarão Reis, julgou em igualdade de condições Belo Horizonte e Várzea do Marçal, decidindo-se ao final pela última localidade. Voltou o Congresso a se pronunciar, e depois de novos e extensivos debates, instituiu-se que a capital fosse construída nas terras do arraial de Belo Horizonte.[40][41]
O local escolhido oferecia condições ideais: estava no centro da unidade federativa, a 100 km de Ouro Preto, o que muito facilitava a mudança; acessível por todos os lados embora circundado de montanhas; rico em cursos d’água; possuidor de um clima ameno, numa altitude de 800 metros. A área destinada à nova capital parecia um grande anfiteatro entre as Serras do Curral e de Contagem, contando com excelentes condições climatológicas, protegida dos ventos frios e úmidos do sul e dos ventos quentes do norte, e arejada pelas correntes amenas do oriente que vinham da serra da Piedade ou das brisas férteis do oeste que vinham do vale do Rio Paraopeba. Era um grande vale cercado por rochas variadas e dobradas, com longa e perturbada história geológica, solos rasos, pouco desenvolvidos, de várias cores, às vezes arenosos e argilosos, com idade aproximada de 1 bilhão e 650 milhões de anos.[46]
Em 1893, o arraial foi elevado à categoria de município e capital de Minas Gerais, sob a denominação de Cidade de Minas. Em 1894, foi desmembrado do município de Sabará. No mesmo ano, os trabalhos de construção foram iniciados pela Comissão Construtora da Nova Capital, chefiada por Aarão Reis, com o prazo de 5 anos para o término dos trabalhos. Com o aumento populacional causado pela construção da Nova Capital, a administração da cidade se tornou mais complexa, o que exigia uma força policial para garantir a ordem e tranquilidade dos moradores.[47] Nesse sentido, Aarão Reis tomou providências e o delegado especial de Sabará, capitão Antônio Lopes de Oliveira, que se tornaria mais conhecido como Major Lopes, assumiu a segurança do Arraial. Em maio de 1895, Aarão Reis foi substituído pelo engenheiro Francisco de Paula Bicalho. Em 12 de dezembro de 1897, em ato público solene, o então presidente de Minas, Crispim Jacques Bias Fortes, inaugurou a nova capital. A cidade, que já contava com 10 mil habitantes em sua inauguração, custou aos cofres estaduais a importância de 36 mil contos de réis. Em 1901, a Cidade de Minas teve seu nome modificado para o atual, em virtude da dualidade de nomes, já que o distrito e a comarca se chamavam Belo Horizonte.[40][41]
Projetada pelo engenheiro Aarão Reis entre 1894 e 1897, Belo Horizonte foi uma das primeiras cidades brasileiras planejadas (algumas fontes a citam como primeira;[48][49] outras como terceira, após Teresina e Aracaju[50][51] e até a quarta, sendo Petrópolis a primeira[52]). Elementos chaves do seu traçado incluem uma malha perpendicular de ruas cortadas por avenidas em diagonal, quarteirões de dimensões regulares e uma avenida em torno de seu perímetro, a Avenida do Contorno.[48][49] Trecho do relatório escrito por Aarão Reis, engenheiro-chefe da Comissão Construtora da Nova Capital, sobre a planta definitiva de Belo Horizonte, aprovada pelo Decreto nº 817 de 15 de abril de 1895:
Foi organizada, a planta geral da futura cidade dispondo-se na parte central, no local do atual arraial, a área urbana, de 8 815 382 m², dividida em quarteirões de 120 m × 120 m pelas ruas, largas e bem orientadas, que se cruzam em ângulos retos, e por algumas avenidas que as cortam em ângulos de 45°. Às ruas fiz dar a largura de 20 metros, necessária para a conveniente arborização, a livre circulação dos veículos, o trafego dos carros e trabalhos da colocação e reparações das canalizações subterrâneas. Às avenidas fixei a largura de 35 metros, suficiente para dar-lhes a beleza e o conforto que deverão, de futuro, proporcionar à população (…)
Entretanto, Aarão Reis não queria a cidade como um sistema que se expandiria indefinidamente. Entre a paisagem urbana e a natural foi prevista uma zona suburbana de transição, mais solta, que articulava os dois setores através de um bulevar circundante, a Avenida do Contorno, bastante flexível e que se integrava perfeitamente na composição essencial.[46] A concepção do plano fundia as tradições urbanísticas americanas e europeias do século XIX. O tabuleiro de xadrez da primeira era corrigido por meio das amplas artérias oblíquas, e espaços vazios, uma preocupação constante com as perspectivas monumentais que provinha do Velho Mundo, com marcadas influências de Haussmann.[46]
Belo Horizonte surgia como uma tentativa de síntese urbana no final do século XIX. O objetivo de se criar uma das maiores cidades brasileiras do século XX era atingido. Porém, o plano de Belo Horizonte pertencia a sua época, seu conceito estava embasado em fundamentos do século anterior. O projeto da cidade foi inspirado no modelo das mais modernas cidades do mundo, como Paris e Washington. Os planos revelavam algumas preocupações básicas, como as condições de higiene e circulação humana. A cidade foi dividida em três principais zonas: a área central urbana, a área suburbana e a área rural.[46]
A área central urbana receberia toda a estrutura urbana de transportes, educação, saneamento e assistência médica, e abrigaria os edifícios públicos dos funcionários estaduais. Ali também deveriam se instalar os estabelecimentos comerciais. Seu limite era a Avenida do Contorno, que à época se chamava 17 de Dezembro. A região suburbana, formada por ruas irregulares, deveria ser ocupada mais tarde e não recebeu de imediato a infraestrutura urbana. A área rural seria composta por cinco colônias agrícolas com inúmeras chácaras e funcionaria como um cinturão verde, abastecendo a cidade com produtos hortigranjeiros.[46]
Para a concretização do projeto, o arraial de Curral del Rei foi completamente destruído, com a transferência de seus habitantes para outro local. Sem condições de adquirir os terrenos valorizados da área central, os antigos moradores foram empurrados para fora da cidade, principalmente para Venda Nova. Acreditava-se que os problemas sociais seriam evitados com a retirada dos operários após a conclusão das obras, o que na prática não ocorreu. A cidade foi inaugurada às pressas, ainda inacabada. Os operários, em meio às obras, não foram retirados e, sem lugar para ficar, formaram favelas na periferia da cidade, juntamente com os antigos moradores do Curral del Rei.[46]
A expansão urbana extrapolou em muito o plano original. Quando foi iniciada sua construção, os idealizadores do projeto previram que a cidade alcançaria a marca de 100 mil habitantes apenas quando completasse 100 anos. Essa falta de visão se repetiu em toda a história da cidade, que jamais teve um planejamento consistente que previsse os desafios da grande metrópole que se tornaria.[53] A nova capital foi o maior problema do governo do Estado no início do regime: construída após vencer muitos obstáculos, ela permaneceu em relativa estagnação devido à crise financeira. Ligações ferroviárias com o sertão e o Rio de Janeiro puseram a cidade em comunicação com o interior e a capital do país. O desenvolvimento foi mínimo até 1922.[53]
Pelas proclamadas virtudes de seu clima, a cidade tornou-se atrativa, especialmente para o tratamento da tuberculose: multiplicaram-se os hospitais, pensões e hotéis, mas até 1930 exerceu função quase estritamente administrativa. Foi também na década de 1920 que surgiu em Belo Horizonte a geração de escritores de raro brilho que iria se destacar no cenário nacional. Carlos Drummond de Andrade, Ciro dos Anjos, Pedro Nava, Alberto Campos, Emílio Moura, João Alphonsus, Milton Campos, Belmiro Braga e Abgar Renault se encontravam no Bar do Ponto, na Confeitaria Estrela ou no Trianon para produzir os textos que revolucionaram a literatura brasileira. Nos anos 1930, Belo Horizonte se consolidava como capital, não isenta de críticas e de louvores. Deixava de ser uma teoria urbanística para ser uma conquista humana, algo para ser não somente visto, mas para ser vivido também. Nesta época o município já contava com 120 000 habitantes e passava por problemas de ocupação, gerando uma crise de carência de serviços públicos. Necessitava de um novo planejamento para que se recuperasse a cidade moderna.[53]
Entre as décadas de 1930 e 1940 ocorreu o avanço da industrialização, além da criação do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, inaugurado em 1943 por encomenda do então prefeito Juscelino Kubitschek. O conjunto da Pampulha reuniu os maiores nomes do modernismo brasileiro, com projetos de Oscar Niemeyer, pinturas de Portinari, esculturas de Alfredo Ceschiatti e jardins de Roberto Burle Marx. Ao mesmo tempo, o arquiteto Sylvio de Vasconcellos também criou muitas construções de inspiração modernista, notadamente as casas do bairro Cidade Jardim, que ajudaram a definir a fisionomia da cidade.[54]
Na década de 1950, a população da cidade dobrou novamente, passando de 350 mil para 700 mil habitantes. Como resposta ao crescimento desordenado, o prefeito Américo René Gianetti deu início à elaboração de um Plano Diretor para Belo Horizonte.[54] Na década de 1960, muitas demolições foram feitas, transformando o perfil da cidade, que passou, então, a ter arranha-céus e asfalto no lugar de árvores. Belo Horizonte ganhou ares de metrópole. A conurbação da cidade com municípios vizinhos se ampliou. Ainda neste período, a cidade atingiu mais de um milhão de habitantes. Nessa época, os espaços vazios do município praticamente se esgotaram e o crescimento populacional passou a se concentrar nos municípios conurbados a Belo Horizonte, como Sabará, Ibirité, Contagem, Betim, Ribeirão das Neves e Santa Luzia. Na tentativa de resolver os problemas causados pelo crescimento desordenado, foi instituída a Região Metropolitana de Belo Horizonte e foi criado o Plambel, que desencadeou diversas ações visando a conter o caos metropolitano.[55]
A década de 1980 foi marcada pela valorização da memória da cidade, com a alteração na orientação do crescimento. Vários edifícios de importância histórica foram tombados. Foi iniciada a implantação do metrô de superfície. Iniciada em 1984 e concluída em 1997, a canalização do Ribeirão Arrudas pôs fim ao problema das enchentes ao centro da capital. Contudo, vários problemas surgiram e alguns permaneceram. Um deles foi a degradação da Lagoa da Pampulha, um dos principais cartões-postais da cidade, que se tornara um lago praticamente morto devido à poluição de suas águas.[56]
A cidade foi palco ainda de grandes manifestações visando a queda da ditadura militar no Brasil, sob a liderança de Tancredo Neves, na época governador do estado. A fisionomia urbana foi novamente alterada com a proliferação de prédios em estilo pós-moderno, especialmente na afluente Zona Sul da cidade, graças à influência de um grupo de arquitetos liderado por Éolo Maia. Na mesma década, a cidade também passou a ser servida pelo Aeroporto Internacional de Confins, localizado no município de Confins, a 38 km do centro da capital.[56]
Em 1980, aproximadamente 850 000 pessoas tomaram a então Praça Israel Pinheiro (conhecida como Praça do Papa) para receber o próprio Papa João Paulo II. Diante da multidão de fiéis e da vista privilegiada da cidade, o papa ali exclamou: “Pode-se olhar as montanhas e Belo Horizonte, mas sobretudo quando se olha para vocês, é que se deve dizer: que belo horizonte!”,[57] o que provavelmente colaborou para que a praça ficasse conhecida hoje por este nome.
No início da década de 90, a cidade era marcada pela pobreza e degradação, com 11% da sua população marcada pela miséria absoluta e com 20% das crianças sofrendo de desnutrição.[58] O restante da década de 1990 foi marcada pela valorização dos espaços urbanos e pelo reforço da estrutura administrativa do município, com a aprovação em 1990 da Lei Orgânica do Município e do Plano Diretor da cidade, em 1996. A gestão municipal se democratizou com a realização anual do Orçamento participativo. O desafio ainda em curso diz respeito ao fortalecimento da gestão integrada da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que reúne 34 municípios que devem cooperar entre si para a resolução de seus problemas comuns. Espaços públicos como a Praça da Liberdade, a Praça da Assembleia e o Parque Municipal, que se encontravam abandonados e desvalorizados, foram recuperados e a população voltou a frequentá-los e a cuidar de sua preservação.[56]
Desde o início do século XXI, Belo Horizonte tem se destacado pelo desenvolvimento do setor terciário da economia: o comércio, a prestação de serviços e setores de tecnologia de ponta (destaque para as áreas de biotecnologia e informática). Alguns dos investimentos recentes nesses setores são a implantação do Parque Tecnológico de Belo Horizonte,[59] do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Google para a América Latina[60][61] e do centro de convenções Expominas.[62]
O turismo de eventos, com a realização de congressos, convenções, feiras, eventos técnico-científicos e exposições, tem fomentado o crescimento dos níveis de ocupação da rede hoteleira e do consumo dos serviços de bares, restaurantes e transportes. A cidade também vem experimentando sucesso no setor artístico-cultural, principalmente pela políticas públicas e privadas de estímulo desse setor, como a realização de eventos fixos em nível internacional e o crescimento do número de salas de espetáculos, cinemas e galerias de arte. Por tudo isso, a cada ano a cidade se consolida como um novo polo nacional de cultura.[63][64]
De acordo com a divisão regional vigente desde 2017, instituída pelo IBGE,[65] o município pertence às regiões geográficas intermediária e imediata de Belo Horizonte. Até então, com a vigência das divisões em microrregiões e mesorregiões, fazia parte da microrregião de Belo Horizonte, que por sua vez estava incluída na Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte.[66]
Belo Horizonte apresenta um relevo bem acidentado. Seu ponto culminante se localiza na Serra do Curral, dentro do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, com altitude máxima de 1 506 metros. Por outro lado, a altitude mais baixa é de 673 metros e está situada na foz do Ribeirão do Onça, que deságua no Rio das Velhas.[67] A área oficial de Belo Horizonte, de acordo com a resolução mais recente do IBGE, é de 331,354 quilômetros quadrados (km²)[4], porém a Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (PRODABEL), que pertence à prefeitura, fornece um valor um pouco maior, de 332,27 km²[68].
Localizado na Bacia do São Francisco, Belo Horizonte não é banhado por nenhum grande rio, mas por seu solo passam ribeirões e vários córregos, em sua maioria canalizados. A capital é atendida por duas sub-bacias, do Ribeirão Arrudas e do Ribeirão da Onça, afluentes do Rio das Velhas. O Ribeirão Arrudas atravessa a cidade de oeste para leste. Mais ao norte, integrando a bacia do Onça, corre o Ribeirão Pampulha, represado para formar o reservatório de igual nome, um dos recantos de turismo e lazer da cidade. O Ribeirão Arrudas deságua no município de Sabará e o Ribeirão da Onça no município de Santa Luzia, ambos no Rio das Velhas. Os trajetos dos córregos e ribeirões não foram utilizados como referências naturais na composição do traçado da área urbana planejada inicialmente, embora estivessem à vista em vários trechos da cidade em seus primeiros anos. Todos eles seriam progressivamente canalizados em seus percursos dentro do perímetro da Avenida do Contorno.[69]
Belo Horizonte está em uma região de contato entre séries geológicas diferentes do proterozoico, compostas de rochas cristalinas, o que dá ao território paisagens diferenciadas. Insere-se na grande unidade geológica conhecida como cráton do São Francisco, referente ao extenso núcleo crustal do centro-leste do Brasil, estável tectonicamente no final do paleoproterozoico e margeando áreas que sofreram regeneração no neoproterozoico.[70] Predominam as rochas arqueanas integrantes do Complexo Belo Horizonte e sequências supracrustais do período paleoproterozoico. O domínio do Complexo Belo Horizonte integra a unidade geomorfológica denominada Depressão de Belo Horizonte, que representa cerca de 70% do território da capital mineira e tem sua área de maior expressão ao norte da calha do Ribeirão Arrudas.[70]
O domínio das sequências metassedimentares tem sua área de ocorrência a sul da calha do Ribeirão Arrudas, constituindo cerca de 30% do território de Belo Horizonte. As características deste domínio são as diversidades litológicas e o relevo acidentado que encontra expressão máxima na Serra do Curral, limite sul do município.[70] Engloba uma sucessão de camadas de rochas de composição variada, representada por itabiritos, dolomitos, quartzitos, filitos e xistos diversos, de direção geral nordeste-sudeste e mergulho para o sudeste. As serras de Belo Horizonte são ramificações da Cordilheira do Espinhaço e pertencem ao grupo da Serra do Itacolomi. Contornando o município estão as Serras de Jatobá, José Vieira, Mutuca, Taquaril e Curral.[70]
O Parque Municipal Américo Renné Giannetti é o mais antigo jardim público da cidade, inspirado nos parques franceses construídos durante a Belle Époque. Foi inaugurado em 1897, no terreno da antiga Chácara do Sapo, que pertencia a Aarão Reis, engenheiro responsável pelo planejamento de Belo Horizonte. São 50 espécies de árvores, emolduradas pelos arranha-céus do centro. Abriga ainda o orquidário municipal. No pé da Serra do Curral está localizada a maior área verde remanescente de Belo Horizonte, o Parque das Mangabeiras, um dos maiores parques urbanos da América Latina, possuindo 2,3 milhões de metros quadrados (m²).[71]
O Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego, ou Parque Ecológico da Pampulha, está localizado na Ilha da Ressaca, na Lagoa da Pampulha. Ocupa uma área de 300 000 m² quadrados, sendo outra importante área verde da capital. O Parque do Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais foi criado em 1968 e ocupa uma área de 600 000 m², abrigando vários exemplares da flora (pau-brasil, sapucaia, barriguda) e fauna (mico-estrela, macaco-prego, saracura, jacu) originais da Mata Atlântica regional, que podem ser observados nas trilhas.[71]
Muitos destes parques são de responsabilidade do governo municipal. A Prefeitura de Belo Horizonte criou em 1983 a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, com atribuições relativas à gestão da política ambiental do município, onde estão incluídas as funções de licenciamento, fiscalização, desenvolvimento e educação ambiental, além da administração dos parques, praças e jardins. Em 1985 foi instituído o Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMAM), órgão colegiado, com função normativa e deliberativa, composto por representantes de diversos setores da sociedade.[72]
Belo Horizonte é uma das capitais mais arborizadas do país, sendo este um dos motivos de ter recebido o título de “Cidade Jardim“. São aproximadamente 560 mil árvores na área urbana, número que sobe para dois milhões, quando considerados os parques e áreas de preservação. Ao todo são 27 parques, acrescentando-se cerca de 500 praças e diversas áreas verdes.[73] A capital mineira possui o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de áreas verdes.[74] Apesar disso, o município preserva pouco de sua vegetação original e, como ocorre em toda a região metropolitana, grande parte dos ambientes naturais foram extensamente modificados pelo homem. O desmatamento decorrente da expansão urbana muito colaborou com a destruição da Mata Atlântica de Belo Horizonte,[75] bioma onde a cidade está localizada.[76]
Com o desenvolvimento industrial, também houve uma grande piora na qualidade do ar nos últimos anos. A Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) é a que mais emite ozônio no Brasil, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE. Enquanto o padrão do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é de emissão de 160 mg/m³ por ano, a RMBH emite anualmente cerca de 300 mg/m³, ganhando até mesmo de São Paulo, com 279 mg/m³.[77]
O clima de Belo Horizonte é classificado como tropical com estação seca (Aw, segundo Köppen). A temperatura média anual é de 22 °C; o verão é moderadamente quente, com elevada precipitação, enquanto o inverno é agradável, praticamente sem precipitação. Ao longo do ano, normalmente, a temperatura mínima nos meses mais frios é de 15 °C e a temperatura máxima nos meses mais quentes é de 29 °C, sendo raramente inferiores a 10 °C ou superiores a 32 °C.[78][79]
O efeito da urbanização tem provocado o surgimento de ilhas de calor e alterações na circulação das massas de ar frio, que, durante o inverno, têm sido fortemente bloqueadas pela alta pressão da massa de ar seco, predominante nessa época do ano.[80][81] A Serra do Curral protege Belo Horizonte dos ventos mais fortes,[82] mesmo assim podem ocorrer episódios de forte ventania, com rajadas próximas aos 100 km/h.[83]
Maiores acumulados de precipitação em 24 horas registrados em Belo Horizonte (Santo Agostinho) por meses (INMET)[84][85][86] | |||||
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Mês | Acumulado | Data | Mês | Acumulado | Data |
Janeiro | 171,8 mm | 24/01/2020 | Julho | 44,9 mm | 19/07/1958 |
Fevereiro | 164,2 mm | 14/02/1978 | Agosto | 41,6 mm | 26/08/1984 |
Março | 122 mm | 29/03/1951 | Setembro | 68 mm | 30/09/1988 |
Abril | 84,8 mm | 05/04/1980 | Outubro | 78,5 mm | 22/10/2009 |
Maio | 74 mm | 24/05/1955 | Novembro | 156,3 mm | 30/11/2006 |
Junho | 47,4 mm | 09/06/1987 | Dezembro | 158,8 mm | 18/12/2000 |
Período: 1931-presente |
As precipitações ocorrem sob a forma de chuva e, em algumas ocasiões, de granizo, podendo serem de forte intensidade e ainda virem acompanhadas de raios e trovoadas.[87] O índice pluviométrico é de cerca de 1 600 milímetros (mm) anuais, com maior frequência nos meses de outubro a março.[88] Em algumas tardes, especialmente no inverno, a umidade relativa do ar (URA) despenca, podendo ficar abaixo de 30%, bem abaixo dos 60% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).[89] Estudos realizados pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostram que, em um século, a média desse índice diminuiu 9,56% e a temperatura média da cidade subiu 1,5 °C.[90]
Segundo dados da estação meteorológica oficial do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no município, localizada no bairro Santo Agostinho, desde 1931 a menor temperatura registrada em Belo Horizonte foi de 3,1 °C em 1 de junho de 1979,[85][86] porém o recorde mínimo absoluto desde março de 1910 foi de 2,2 °C em 11 de julho daquele ano.[91] A máxima histórica, nesse ponto de medição, atingiu 37,4 °C em 22 de outubro de 2015.[85][86] Contudo, na estação meteorológica automática do INMET situada no campus da UFMG da Pampulha, em operação desde outubro de 2006, a temperatura máxima chegou aos 38,4 °C em 7 de outubro de 2020.[85][92][93]
O maior acumulado de precipitação em 24 horas chegou a 171,8 mm em 24 de janeiro de 2020, superando os 164,2 mm registrados em 14 de fevereiro de 1978. O maior acumulado mensal foi de 934,7 mm em janeiro de 2020, batendo o recorde anterior de 850,3 mm em janeiro de 1985. O menor índice de URA foi de 10% na tarde de 12 de outubro de 2014.[85][86] De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (ELAT/INPE), o município apresenta uma densidade de descargas de 6,01 raios por km²/ano, estando na 65ª posição a nível estadual e na 1 200ª a nível nacional.
0300-100-1000
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